Luta na Luta Antimanicomial

A loucura, tanto já elogiada (Rotterdam), homenageada (Bispo do Rosário), prestigiada (Pinel), quanto mal tratada (Austregésilo Carrano) participa agora de um embate sobre sua possibilidade de liberdade e, mais: sobre o que é ser livre, sendo louco.

O poeta Ferreira Gullar tornou pública sua posição contrária à luta antimanicomial, na defesa dos hospitais psiquiátricos como os guardiães zelosos da loucura. Em seu texto, publicado no Caderno Ilustrada, do Folha de São Paulo, no dia 12 de abril, ele fala de sua convivência e de seu sofrimento com a loucura. Em tom confessional, fala de seus dois filhos "nesse estado"(sic) e de sua dor por interná-los para salvá-los e a sua família.

Não serei a porta-voz deste pai depoente, tampouco do poeta desta magnitude. Deixo o link de seu texto e a manifestação do Conselho Regional de Psicologia - SP, do qual me aproximo ideologicamente, sem deixar de me compadecer com o poeta.

“O poeta Ferreira Gullar já abraçou em sua longa e admirada carreira política e intelectual causas mais nobres do que a defesa do lucro de hospitais privados e da indústria farmacêutica. Sim, porque a lei que acabou com verdadeiros matadouros, como os de Barbacena (MG) ou do Juquery, em Franco da Rocha (SP), instituindo um tratamento humanizado para os doentes mentais, em substituição à segregação, desagradou apenas às grandes empresas que lucram com as doenças. É triste ver um poeta usar sua sensibilidade para louvar as virtudes de um remédio (Haldol) ou as instalações cinco estrelas de clínicas psiquiátricas. Não por acaso seu artigo recebeu apoio entusiasmado dos lobbies interessados em restaurar a situação anterior à reforma que instituiu o tratamento ambulatorial e reservou a internação apenas para os casos mais graves, durante crises agudas. Somos solidários com a angústia e a dor de quem tem filhos esquizofrênicos como ele, a quem só podemos dizer, com suas próprias palavras, ‘que a vida vale a pena, mesmo que o pão seja caro e a liberdade pequena’. A liberdade de quem tem sofrimento mental é pequena. A todos nós, sobretudo aos poetas, cabe aumentá-la, com amor e tolerância.” Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (São Paulo, SP)

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