"Sou mil em mim e não posso me resignar a ser apenas um" (Ortega)
Causa muito fascínio sobre mim um espetáculo de teatro, o drama sofrido em lágrimas que escorrem verdadeiras sobre o rosto da atriz. Atrai-me o humor irônico com que o ator transforma o texto em expressão gestual! Ser mil em si, provocar nos espectadores um turbilhão de variadas emoções e desarranjos: eis o fascínio do teatro sobre mim! Ser atriz, por que não? Viver, no corpo, na pele, a vida de outra pessoa; sentir seus medos, aflições e devaneios e transformá-los em gestos pessoais. Por que não dar-se a outras infindas e desconhecidas histórias? Por que não ser mais algumas, e não uma só, em mim? Subir ao palco, à meia-luz, sob holofote, seja como for, e apresentar a muitos olhares um outra versão que, naquele momento ao menos, é uma versão de mim!
Levanto a mão sob o palco branco do papel. Retiro da coxia a caneta, frequentemente de tinta azul, visto-me dela e entro em cena. Com as palavras enceno outras personagens, outros mundos, novas vidas. Apresento-me sem rosto. Faço-me em letras... Sou mil em minhas palavras!
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