Momento Infante

"-- Vicentão, qual o parentesco do vagalume com o canivete?
-- Parentes colados! O vagalume, quando pisca a sua luz, separa a escuridão da claridade. E disso é que vive o canivete: de separar, de cortar"
Francisco Marques

Quem Somos

O Nucleus Terapêutica é um consultório de Psicologia especializado em Terapia Conjugal e Familiar. São realizados atendimentos clínicos com enfoque Sistêmico:
Atendimentos Individuais
Atendimentos de Casal (com ambos os cônjuges ou apenas um deles presente)
O Nucleus oferece, também, oficinas literárias infanto-juvenis: um trabalho terapêutico e de formação de leitores.
Localizado no bairro de Higienópolis, em São Paulo, o telefone do Nucleus é:
(11) 3825-7749
E-mail para contato e agendamento de consulta:
nucleusterapeutica@gmail.com

Psicologia

“Faço na palavra o esconderijo do tempo”(Mia Couto)
Pegando carona nas palavras do escritor, a terapia é, em verdade, um espaço de encontro da pessoa consigo mesma, com sua forma de contar – e com sua força em recriar – sua história. A terapia familiar e a de casal compreendem a pessoa como um sistema (com gostos, preferências, opiniões, etc) em contato e em relação com outros vários sistemas (família, trabalho, outras pessoas, Estado, país, comunidade do bairro, etc). Destas relações teia-se um emaranhado de forças que forma a pessoa. É sobre este emaranhado, sobre este tecer, que na terapia pode-se conversar. E compreender. E des-enrolar...!

Uma grande limpeza

O avermelhado das luzes via-se tão logo dobrava a esquina, anunciando à atenção e à vigília que se deveria ter cautela e agilidade, caso preciso. Os passos não podiam recuar, mantinham os pés em direção ao caminho original. Um forte e rápido cheiro de fezes humana atropelou a sensação de alerta, desviando o olhar para a calçada, com cuidados de não fazer do tênis um emaranhado de gosmas fedorentas e grudentas. Saltadas algumas manchas enegrecidas e amassadas do chão, agora era o cinza e o sexo dos policiais que reclamavam atenção. Dois homens e duas mulheres. As luzes vermelhas estavam mudas, assim como os quatro policiais, sem alarde, sem sons, sem cacetetes, sem balbúrdia. Parecia mesmo que só olhos muito discretos poderiam ver o que se passava. Olhos distraídos. Pouco a pouco uma legião de montes empilhados de cobertores, papelões, carrinhos, farrapos, colchões andavam em direções várias, atravessando as ruas, como se fossem uma grande flor desabrochando, em câmera lenta, sem pressa. Do lado de cá da calçada, por onde já tinha desviado da chance de ter meus tênis imersos no odor daquela cena, outros rostos igualmente amontoados de frangalhos, cobertores, caixotes e cachorros fumavam cigarros sossegadamente, olhando seus companheiros do lado de lá. Debaixo do grande e feio viaduto vinham, agora, cores amarelas e alarajadas, dois a dois, passando vassouras e jorrando água, escoltados por mais um casal cinza. Os pés não podiam desistir da caminhada e estancar, admirados pela cena matinal ali, do outro lado da calçada. Como uma cena de filme que passa, enquanto você está sentado, passei eu, enquanto eles permaneceram à minha espreita, na calçada, cheios de trapos. Assim amanhece a cidade: numa grande limpeza. Urbana. Humana.

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